Não pude deixar de ler e comentar
o texto recentemente publicado pela Dra. Suzana Herculano-Houzel, o qual teve
boa repercussão nas rede sociais. A questão da ciência brasileira é de longe
uma pelas quais mais me interesse e atuo diariamente além, é claro, de minha
rotina de bancada como doutorando que sou no momento.
Partilho de todos os pontos
negativos apontados pela Professora Suzana, no entanto discordo de alguns
pontos e acrescento outras reflexões para manter o debate acesso (a final de
contas, tenho certeza que essa foi a intenção do Professora ao produzir essa
reflexão, ela está de parabéns!).
Meu ponto principal aqui é não a
critica ao sistema de financiamento de pós-graduação e sim a outras questões
que acho mais importantes no que se refere à valorização de um cientista.
O Brasil é de longe um dos países
que mais investiu em ciência nos últimos anos. Obviamente precisamos melhorar e
ampliar, os cortes previstos para os próximos anos são alarmantes! Ressalto que
uma visão trabalhista, embora eu já tenha pensado assim, não é aplicável na pós-graduação
brasileira e em nenhum país do mundo. A pós-graduação é um processo de
formação, no qual, sim trabalhamos e produzimos conhecimento, sem dúvida, mas
somos financiados para nos formar também.
Os EUA, pais o qual os brasileiros tradicionalmente “pagam pau”,
têm um sistema muito diferente do nosso. A grande maioria das universidades é
privada sendo preciso pagar para fazer pós-graduação lá. Obviamente que existem
bolsas de estudos aos melhores e que os orientadores pagam aos alunos utilizando
os seus grants, isto é, se houver. Ou
seja, caso você não tenha um bolsa de estudos e seu orientador não tenha Grant disponível
para te dar um “salário” você irá pagar para fazer seu doutorado. E isso é uma
realidade em outros países. O fato é que existem muitas fundações privadas que
INVESTEM em jovens talentos e acabam por financiar seus estudos por entender
que isso pode gerar algum retorno no futuro e, possivelmente, lucro.É nesse ponto
que foco minha argumentação.
O cientista brasileiro, via de
regra, segue uma carreira linear e comodista. Entramos numa universidade fazendo
IC, mestrado, Doutorado, Pós-doc, e ficamos aguardando um concurso público,
normalmente na mesma universidade que estamos vinculados a 10 anos, para nos
tornarmos docentes servidores públicos. Muitos “se contentam” com essa posição
e ficarão lá para o resto de suas vidas. O Brasil ainda tem essa visão de supervalorização
de concursos públicos. É uma blasfêmia imaginar alguém que larga uma profissão
no serviço público, as pessoas dizem “ele tinha tudo na mão e jogou fora!”.
Parafraseando o Professor Calixto
da UFSC, para todo o grande ganho deve INEVITAVELMENTE haver um grande risco. E é ai que nossos
amigos administradores e economistas estão na nossa frente. Eles não têm medo
de riscos, ou seja, de empreender.
Existem milhares de cientistas
que estão ricos, já que o ponto principal é “Money que é good nóis não have”. Pego um grande exemplo, o biólogo Craig
Venter. Ele é um dos cientistas mais ricos do mundo. Foi o pai do genoma humano
e da bactéria sintética. Foi um péssimo aluno na escola, gostava de surfar e “tirar
onda com as gatinhas”. Eis que seguiu o mesmo caminho que nós estamos seguindo,
doutorado pos-doc e professor de universidade. Paralelamente empreendeu.
Arriscou. Montou uma empresa que hoje é um imenso instituto lucrativo nos EUA ,
o J. Craig Venter Institute. Ressalto
que é apenas um exemplo entre outros vários que existem, não no Brasil,
infelizmente.
Se existe um ponto muito grande
de falha na formação acadêmica brasileira é isso. Não somos ensinados a
empreender a arriscar. É tudo muito paternalista. Não amadurecemos para o
mercado de trabalho. Somos como adolescentes que moram com os pais, que
reclamam o tempo todo, mas não saem de lá por nada, pois a vida lá fora é mais
difícil. Temos medo de sair do conforto da casa da “mamãe FAPESP, CNPq, CAPES, etcs”,
mas continuamos nela a reclamar.
Somado a isso, existem os “trabalhadores
da ciência”, aqueles colegas que estão lá só porque não conseguiram um emprego
e “estava rolando uma bolsa na hora”, normalmente reclamam muito das bolsas.
Por isso acho que realmente é
essa a pergunta, mas em outra esfera. Você realmente quer ser um cientista? E ser
um cientista não é ganhar uma bolsa de pós graduação e fazer um trabalho na
bancada. Ser cientista é fazer perguntas e respondê-las com inteligência. Ser
cientista é saber empreender também, aliás, especialmente.
O Brasil precisa aprender que é possível
lucrar com ciência, em especial os pesquisadores da área da saúde. Fazemos muitas
pesquisas que “não servem para nada”, isto é, não vislumbram a mínima
aplicabilidade. Os pesquisadores da área de engenharias, ciências agrárias pensam
sempre no final - o produto, o serviço. E nós da pesquisa médica brasileira o
que temos produzido nos últimos anos para a população?
Concluindo existem outros
caminhos do que o serviço público e a academia, mas para isso temos que arriscar
a perder tudo, ficar desempregado, tomar bronca de chefe...
Sinceramente, não sei se nós
acadêmicos estão preparados para isso.
5 comentários:
Ótimo texto.
Posso falar da França que é onde estou fazendo minha tese. Aqui o contrato de doutorado é um contrato de trabalho. Você paga imposto de renda, contribui pro plano de saúde (público, mas não 100% gratuito) e paga para a previdência.
Além disso, aqui na universidade existe o cargo de pesquisador (engenheiro de pesquisa) que pode, através de concurso, acumular as funções de professor e orientador.
Outra vantagem para a área da biologia é que grandes empresas farmacêuticas e de biotecnologia tem laboratórios por aqui. É um mercado mais amplo.
Concordo que não temos formação para sermos empreendedores, mas, e eu me incluo nessa, nem todos querem ser empreendedores. Não é só uma questão de arriscar. É também o que se quer pra sua vida.
Existe um problema medonho no empreender aqui no Brasil. O custo de empréstimos é altíssimo. Qual é o pesquisador (que não sabe chongas sobre administrar um negócio) vai se arriscar aos 10% de juros ao mês para tentar a sorte na roleta de mercado brasileiro?
Camarada, até estava gostando do seu texto, até ler: "Fazemos muitas pesquisas que “não servem para nada”, isto é, não vislumbram a mínima aplicabilidade"..... Depois dessa, fica claro e evidente que você ainda não entendeu muito bem o que significa FAZER CIÊNCIA...!!!!
Douglas,
quero muito conversar com vc!! Não acho o email que vc me enviou ew que não respondi. Manda de novo pra mim. Mil beijos.
Patrícia Lins e Silva
Douglas,
quero muito conversar com vc!! Não acho o email que vc me enviou ew que não respondi. Manda de novo pra mim. Mil beijos.
Patrícia Lins e Silva
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